O conjunto de Código e MP vai regulamentar a exploração de terras no Brasil, estabelece onde a vegetação nativa tem de ser mantida e onde pode haver diferentes tipos de produção rural. O atual código em vigor é de 1965, com modificações.
Editada em maio pela Presidente Dilma Rousseff, a MP continha 12 vetos e 32 modificações ao projeto que tramitou pelo Congresso. Ao passar novamente pela Câmara, a MP sofreu novas alterações que agora serão votadas pelos senadores, última etapa antes da presidente sancionar ou vetar a MP.
Com o processo de elaboração dessa nova lei ambiental brasileira chegando a reta final, a equipe do G1, consultou representantes do setor agropecuário e do setor ambiental para que apontassem os principais pontos destacados:
1 Escadinha: A criação de escala para recuperação das matas nas margens de rios de acordo com o tamanho da propriedade, criada pela MP e modificada na comissão, é considerada injusta por ambientalistas e ruralistas, mas por motivos diferentes. De acordo com Fábio Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, a recomposição imposta ao pequeno produtor, por seguir um padrão nacional, não atende as peculiaridades do país. Além disso pode custar caro demais aos agricultores devido à falta de financiamento.
André Lima, assessor para políticas públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, pondera que a mudança da área de em função do tamanho do imóvel vai gerar confusão, já que parte do pressuposto de que todos os produtores descumpriram a lei: Aquele que não desmatou será injustiçado. (...) Essa nova regra obriga a recompor que manteve a floresta em pé, sem criar benefícios.
2 Recomposição de APPs feitas por estados
Segundo a senadora Katia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, outra incongruência da nova lei é a impossibilidade de os estados legislarem sobre a recomposição de áreas desmatadas em vez da União.
Independentemente da escadinha, a recomposição tinha que ser decidida nos estados, que poderiam avaliar melhor a situação individual dos produtores, com um conceito social, explica a senadora. Da mesma opinião compartilha Meirelles da Faesp, afirmando que um código ambiental estadual evitaria conflitos e dificuldades para o setor produtor de alimentos.
3 Cadastro Ambiental Rural (CAR)
A exigência do mapeamento de propriedades por satélites e cadastro em secretarias estaduais de Meio Ambiente, que deverão fiscalizar as áreas antes de liberar financiamentos agropecuários, seria uma boa iniciativa se sua aplicação não demorasse tanto a vingar, afirma Paulo Barreto, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. Segundo ele, a lei ambiental dá margem aos bancos para que usem os dados apenas 5 anos após a entrada em vigor da lei, o que poderia acelerar o desmatamento. Ainda em relação ao CAR, Fábio Meirelles, afirma que é alto o custo que o produtor rural terá para mapear sua propriedade. De acordo com ele, o micro e pequeno produtor terão que desembolsar altos valores sem ter garantias da liberação de financiamentos.
4 Rios efêmeros deixam de ser área de preservação permanente (APP)
Apesar do acordo feito entre o Congresso e o governo para ampliar a proteção aos rios temporários deixam de ser APP os rios efêmeros, que são cursos d'água superficiais que dependem de chuvas para existirem sem se alimentarem do lençol freático. Segundo Tasso Azevedo, ex-diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro, essas áreas não poderiam deixar de ser contempladas pela lei ambiental pois podem abrir precedentes para novos desmatamentos.
Os rios efêmeros são especialmente importantes em áreas que já sofrem de escassez de água. como no Nordeste.
5 Ausência de incentivos ambientais
Um dos pontos criticados por ambientalistas e ruralistas é a falta de criação de incentivos financeiros para produtores rurais que conservem vegetação nativa em sua propriedade. Segundo Seneri Paludo, diretor executivo da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso, apesar de o novo Código Florestal trazer segurança jurídica para o agricultor, ele precisará de incentivos para recompor os hectares desmatados, onde cada hectare recuperado custaria cerca de R$ 6 mil.
Paulo Barreto, do Imazon, considera que este aspecto foi uma oportunidade perdida na elaboração do Código, que poderia incluir, por exemplo, o pagamento por serviços ambientais, uma forma de remunerar que conserva a mata.
6 Topos de morro
A modificação da regra de que são APPs apenas topos de morros que tenham no mínimo cem metros de altura (a contar da planície) faz com que 80% dos morros de estados como São Paulo, Bahia e Santa Catarina fiquem em teoria, passíveis de desmatamentos, segundo Tasso, apenas 20%dos morros se enquadram na característica do novo Código.
7 Replantio com espécies frutíferas
Um dos pontos polêmicos na lei ambiental é a possibilidade de recompor áreas de proteção permanentes degradadas com espécies frutíferas e não apenas espécies nativas. Para ambientalistas, isso cria o risco de impacto principalmente se o plantio ocorrer em beira de rios, por causa do suso de agrotóxicos nesses pomares. Quem desmatou será beneficiado duas vezes: ele poderá plantar por exemplo laranjas e APPs e ainda faturar com a venda dessas frutas.
O projeto de lei do Código Florestal não trata da recomposição de mata ciliar dos rios urbanos, além de não englobar arborização das cidades com espécies nativas. O documento passa a atribuição de recompor faixas marginais desses rios para os municípios, que devem delimitar o uso do solo nos seus planos.
Fonte: O Globo/ Naureza - dia 25/09/2012
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